Foi apenas um mês após o início das aulas.

Foi apenas um mês após o início das aulas, um mês após o início do ano letivo para quase todos nós. Foi nesse dia, que sem sabermos de quase nada, tivemos que ir para casa, deixando nosso trabalho, nossos alunos, professores e famílias sem despedida. Foi nesse dia que saímos achando que logo voltaríamos. Foi nesse dia que percebemos que não tínhamos nos preparados para isto. Foi também nesse dia que chegamos em casa sem saber ao certo o que fazer no dia seguinte.

Ainda não estávamos entendendo tudo isso. Foi a partir desse dia que começamos a entender as coisas e vermos as notícias, porque antes não tínhamos tempo para nos preocuparmos diante dos nossos dias maravilhosos de correria, e como era bom! Acordar e saber que tínhamos nosso trabalho, que podíamos nos arrumar e viver aquele dia de sol, que podíamos ver as pessoas, conversar com elas e abraçá-las.

Foi considerado Pandemia em 11 de março de 2020 e nós ainda estávamos trabalhando e ainda achávamos que não seríamos atingidos, mas o pior de tudo isso é que nós, pessoas comuns, sem muita informação que tínhamos que pensar na gravidade de tudo isso. Pior é saber que temos um Governo e um Ministério da Saúde, saber que temos embaixadores em outros países e que eles não iniciaram o preparo de nada. Depois de ser considerado Pandemia, depois de termos os casos no Brasil sem controle algum, começaram a pensar em algo. Ministro dizendo que precisávamos preparar a rede de saúde, ao passo que também dizia que o Brasil estava preparado, tendo em vista que temos um número mais elevado de leitos comparado com outros países como Itália. Presidente que nunca deu a importância necessária para o COVID-19 e somente para como a economia ficaria se as pessoas ficassem em casa.

Meus relatos não são políticos, são fatos que vemos todos os dias, são fatos para todos verem e ouvirem. Minha preocupação também não é política.

Temos uma parte das pessoas achando que devemos voltar para trabalhar, em que pese que quase todas elas têm planos de saúde, e seus próprios carros. Logo correm menor risco pois não andam nos ônibus apertados e não recorrerão para o SUS, que provavelmente não terá respiradores para atender quem precisar.
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Está bem, vão me dizer que o COVID-19 atinge a todos! Com certeza, porém, quem tem mais chance de viver? Quem tem dinheiro para comprar remédios, pagar por planos de saúde e utilizar em hospitais mais equipados? Ou aqueles com poucas condições que será mandado para casa se não estiver a ponto de ser entubado? Quem tem maiores chances de pegar o vírus? As pessoas que precisam usar ônibus para ir ao trabalho ou quem anda sozinho no seu carro? A pessoa que atenderá vários compradores em um dia ou aquela que trabalha em seu escritório com mais duas pessoas? Os alunos que estão agrupados em sala de aula e os professores das escolas públicas, que não terão acesso a álcool gel e máscaras? Ou aqueles alunos que levarão álcool gel na bolsa e utilizarão máscaras e poderão trocá-las?

Com isso, não estou querendo dizer que sou contra ou a favor do isolamento, eu sinceramente não sei. Eu tenho muitas dúvidas assim como todos vocês.

Minha preocupação é como nós ficamos e ficaremos. Nós não sabemos o que vai acontecer, nós não sabemos se voltaremos as escolas, não sabemos se voltaremos ao trabalho e tão pouco, não sabemos se iremos contrair o vírus ou não, porque não temos testes. Não sabemos se já contraímos o vírus, se as pessoas que estão longe de nós, já tiveram ou não. Diante de tudo isso, eu só tenho uma certeza. Que não sabemos de nada! Estamos cegos diante de um cenário tão hipotético. Estamos vivendo a volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade. Bem-vindo ao mundo VUCA (inglês).

(VUCA é um acrônimo para descrever quatro características marcantes do momento em que estamos vivendo: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Apesar de o termo ter sido incorporado mais recentemente ao vocabulário corporativo, ele surgiu na década de 90 no ambiente militar. www.redeindigo.com.br)

Laura de Andrade – Diretora de Escola.